Drabble: Breathe Me

Autora: Roberta Clemente

Resumo: "Eu sou o homem mais sortudo do mundo"

O mar negro a sua frente era convidativo. Calmo e quase liso, parecia quente e acolhedor. A lua tocando a água no fim do horizonte deixava a imagem perfeita.

Dando um passo a frente e sentindo a água tocar seus pés Oliver sorriu. Tanta coisa aconteceu para chegasse até aquele momento, aquele instante. A tantas coisas teve que ser superar e até mesmo sobreviver.

Olhando melhor agora, mais velho, percebia que a vida só tinha cobrado o tanto que lhe deu. Era um homem de sorte, sempre foi.

Perdeu os pais cedo demais, mas teve o amor deles até o ultimo instante. Foi amado e carregou este amor em seu coração a vida toda.

Sozinho nunca ficou desamparado. A estabilidade financeira em que seus pais lhe deixaram era suficiente para que ele pudesse fazer qualquer coisa, ser o que quisesse ser sem se preocupar. Seguir qualquer rumo.

Quando perdido naquela ilha, quando seria mais fácil desistir de tudo, do mundo, entendeu que seu destino era o bem, fazer o bem.

E perdido tantas vezes quanto foi possível se perder nas armadilhas da vida, nunca esteve sozinho. Em cada luta encontrou um companheiro novo que ficou em sua vida. Aprendeu a perdoar e a pedir perdão.

E mesmo pensando não existir salvação uma mão lhe foi oferecida e ele encontrou enfim uma melhor amiga, uma companheira, uma igual que estaria ao seu lado.

E no pior momento, em que sua companheira foi tirada dele sem aviso, mesmo assim, entendeu. Tinha encontrado enfim o amor. Verdadeiro. Daqueles que espera, que supera e que volta.

Tirando as mãos dos bolsos da calça branca Oliver olha para o alto e suspira, aliviado. Aliviado por olhar para sua vida e enxergá-la como ela realmente era. Completa.

Ainda sorrindo sentiu uma mão quente deslisar pela sua, o tirando gentilmente de seus pensamentos e orações. Não precisava olhar para saber de quem era aquele toque macio, mas fez, a saudade dos olhos verdes dela começava a apertar.

Acordavam juntos todos os dias há um ano e ainda se chocava com a beleza dela, que ficava mais bonita a cada dia. Os cabelos loiros ao vento, enfeitados por um lírio laranja e aquele sorriso, era de tirar o folego.

Passaria por tudo de novo para estar ali, ao lado dela. Aguentaria firme cada momento de desespero que viveu se a recompensa fosse ter uma vida inteira com ela e aquele sorriso. Era o homem mais sortudo do mundo e sabia disso.

Desviou brevemente o olhar do dela para olhar para trás. De onde as risadas de seus amigos, seus irmãos vinham. E seus olhos seguiram pelas tochas na areia que formavam o caminho até a bela casa que ele e Chloe chamavam de lar.

Voltando a atenção para sua esposa e o belo vestido branco que ela vestia ele sorriu sabendo que seus olhos começavam a arder de emoção. E sabendo melhor que ninguém o que se passava por de trás de seus olhos marejados ela se aproxima, tocando seu rosto.

“Nós temos sorte!” ela sorri suavemente.

Engolindo ele concorda balançando a cabeça. “Muita!” ele olha fundo nos olhos dela. “Eu sou o homem mais sortudo do mundo. Me casei com a mulher da minha vida... Duas vezes”

“E eu com o amor da minha vida” Chloe fica na ponta do pés e toca levemente os lábios dele com os seus.

Oliver segura o ar e fecha os olhos, aproximando o corpo dela ao seu e se deixando ser beijado pela mulher mais especial que conheceu, com quem tinha acabado de se casar mais uma vez, diante de todos os seus amigos. Mulher que se tivesse a sorte que achava que tinha, estaria ao seu lado em todos os momentos de sua vida. Bons e ruins.

“Obrigado!” ele sussurra no ouvido dela. “Por fazer de mim um homem melhor”

“E obrigada por me amar do jeito que eu sou!” ela também sussurra agradecendo e apertando os braços em volta dele.

“Eu te amo!”

“Eu também te amo!”

Depois de alguns segundos em silencio, sentindo o abraço, o halito, o cheiro um do outro Oliver sente a água bater um pouco mais alto, na altura do tornozelo e se afasta para olhar para ela.

“Pronta?” ele pergunta oferecendo a mão.

Os olhos dela brilham de divertimento.“Pensei que nunca perguntaria” eles também brilham de felicidade e entrega quando aceita colocando a mão sobre a dele.

Eles não correm. Oliver caminha de costas para o mar, olhando para ela, conduzindo Chloe pela mão enquanto sentia a água bater em suas pernas. Não conseguia parar de olhar para ela, toda graciosa, sorrindo para ele como se não existisse mais ninguém no mundo.

Quando fica impossível dela caminhar contra as ondas em seu vestido de noiva Oliver oferece seus braços e Chloe se agarra a ele sem hesitar. Abraçados e rindo um para o outro se jogam na primeira grande onda que os atinge. Unidos.