Drabble: Elsewhere

Mais uma drabble. Espero que gostem tanto quanto eu estou gostando de escrever...Se sim, se não, façam a autora feliz comentando, ok?

Autora: Roberta Clemente

Era quase impossível manter os olhos abertos contra a chuva que caia sem trégua. Olhando para o céu achou estranho como as gotas caiam, parecendo simplesmente se materializar sob a tela azul da noite.

Começava a sentir frio e sabia que não era por culpa da água que enxercava seu corpo até os ossos. Tomando consciência do próprio corpo ergueu a mão até o peito, entre a pele e o couro da jaqueta preta. Apertou até sentir a dor aguda e sorriu brevemente. Enquanto sentisse dor havia uma chance.

Só esperava que ele fosse rápido, rápido o bastante. Não queria que Oliver entrasse naquele beco e a encontrasse sem vida. Ele não merecia. Não depois de tudo, de tudo o que ela fez. Agora, vivendo algo que não tinha previsto, que não estava na visão que o capacete lhe deu, sentia uma ponta de arrependimento causar mais danos que a bala em seu peito.

Deveria ter dito a Oliver onde ela esteva quando foi embora. Deveria ter dito a ele que voltaria pra casa, que voltaria para ele. Mas achando que era o certo, que só distante poderia se manter afastada perdeu Oliver. Tantos momentos, beijos, toques, sorrisos e olhares perdidos. Nem uma vida inteira pela frente preencheria esse vazio.

E a magoa nos olhos dele era insuportável. Ainda não conseguia lembrar, ver os olhos machucados dele e não se odiar todas as vezes. Precisava pedir perdão mais uma vez, uma ultima vez. Oliver tinha que chegar a ela rápido. Já não sentia as pernas.

As lembranças felizes com ele a manteriam aquecida. Sua mente vagou feliz até o melhor momento de sua vida. Quando juntou sua metade da certidão de casamento com a dele. Nunca se esqueceria d que sentiu naquele momento. Aquecida e completa como nunca na vida. Sorriu com a lembrança da expressão dele, os olhos pidões.

Daria tudo para vê-los mais uma vez e se fizesse pediria perdão. Por todo o tempo perdido por culpa dela. Quando foi insegura e quando o deixou. Mas diria também que o amou, desde sempre. Até o ultimo momento, até agora.

Apertando a ferida e não sentindo mais dor Chloe percebeu que seu tempo estava acabando. Uma lágrima quente escorreu pelo rosto gelado e ela sentiu muito, fechando os olhos e orando para que ele a perdoasse por isso também.

Seu nome foi chamado, longe, muito longe para que respondesse. Lutou contra as pálpebras pesadas quando o chamado, a voz urgente dele ficou próxima, queria olhá-lo mais uma vez, mas falhou miseravelmente. Por um segundo ou talvez dois se desencontraram e a voz dele começou a sumir até se perder na escuridão em que mergulhava. Era silencioso, quieto e calmo. Sem dor, sem frio. Não sabia onde começava ou terminava. Se sentiu cair em um grande vazio.

Até que a voz de Oliver invadiu tudo, chamando, pedindo por ela. E logo entendeu que este seria seu inferno pessoal. Escutar o sofrimento dele para toda a eternidade e não poder fazer nada. Então o sentiu tocar sua mão e sem perceber abriu os olhos.

Não era mais escuro e não era brando. Em um só golpe sentiu o próprio corpo e toda a dor que ele estava carregando sozinho. Uma chance. Havia sido presenteada com mais uma chance.

-Chloe?

Era ele. A voz mais linda e rouca que já tinha escutado, chamando por ela. Era só procurá-lo e ele estaria ao seu lado, como sempre. Era só seguir a mão que sentia na sua e encontrar o rosto que queria desesperadamente ver. Que orou para ver mais uma vez.

Inclinando a cabeça sobre o travesseiro quente seus olhos se chocaram contra os dele e Deus sabia que poderia ter morrido depois disso, pois eles pareciam mais cheios de amor que antes. Era impossível não agradecer aos deuses por ser o motivo daquele olhar.

-Oi.

-Eu...sinto muito Ollie!...