Essa fic é meio antiga, do final da 8ª temporada (começo da era sombria de Samllville =P). Mas como eu não gostei muito da reação do Oliver quando a Chloe fugiu com o Davis em Beast (acho que não fui só eu, né?), gostei muito dessa fic, mesmo sendo meio sombria também. Espero que gostem.
Spoiler: Até o episódio “Beast”.
Autora: Isabel5
Sumário: Como a autora acha que o episódio “Beast” deveria ter acontecido.
Original: http://www.fanfiction.net/s/5033306/1/Three_Heartbeats
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Chloe sabia que soava melodramático, mas toda vez que ela ouvia a sacola bater contra a parede uma pequena parte dela morria por dentro. Ela caminhou pelo Talon contando os batimentos do seu coração de três em três. Três batimentos para ir do porão aos fundos, outros três batimentos para ir dos fundos ao balcão. Ela levou mais três batimentos para ir do balcão até a porta e pensou se ao fim dessa tarefa ainda sobraria alguma parte dela.
Ao chegar à porta teve que colocar a sacola no chão. Ela se recusou a prestar atenção ao som esguicho e repugnante que a sacola fez quando chegou ao chão e pacientemente ignorou a larga poça de sangue que ficou para trás quando pegou a sacola de volta. Três batimentos cardíacos para chegar à lixeira, sabendo que deveria achar um lugar mais longe de seu apartamento. Mais longe da cidade seria ideal, mas ela não conseguia juntar forças para ir mais longe.
Olhou para suas mãos e para o sangue que agora às manchava. O sangue do homem que ela sabia que a teria assassinado se não fosse por Davis, mas ainda assim não importava. O que importava no momento era que ela, Chloe Sullivan, tinha acabado de se dispor de um corpo.
Chloe foi ao chão ao sentir o peso de tudo cair sobre ela e a sufocar. Com suas costas contra o frio metal da lixeira, ela se permitiu um momento de fraqueza e as lágrimas caíram como se ela tivesse aberto as comportas. Lá no fundo ela tinha que saber que isso aconteceria. Chloe é uma pessoa lógica, ela pode conectar as coisas mais rápido do que qualquer um que conhece. É muito boa em deduzir o que é mais plausível de acontecer em qualquer situação e planejar de acordo. Essa é parte da razão pela qual Oliver lhe deu o trabalho de Watchtower. Mas ainda assim ela nunca previu jogar fora sacolas cheias de partes do corpo na lixeira onde ela jogou fora a lasanha de ontem.
Dizem que as escolhas fazem a pessoa quem ela é. Todas as decisões feitas no decorrer da sua vida, grandes ou pequenas, formam o seu futuro. Ela tinha a sensação de que essa decisão em particular iria fazer mais que formar seu futuro, iria defini-lo.
Quando ela se virou naquela noite, há uma semana, e Davis estava na frente dela, ela ficou aliviada por um segundo. Antes da traição, antes de descobrir o que ele tinha feito, ele tinha sido amigo dela, e morte nunca é algo que você quer para um amigo, especialmente quando está em suas mãos.
Três batimentos cardíacos e a realidade da situação tinha ficado bem aparente para Chloe. Davis tinha voltado dos mortos, então Doomsday tinha voltado dos mortos. As pedras de meteoro não o tinham matado, só serviram para fazê-lo mais invencível, intocável e, nas próprias palavras dele, imortal. A última coisa que Chloe percebeu, descendo de volta os degraus do porão quando cada osso do seu corpo tinha dito para correr, dito para ela pegar as pessoas que ama e ir para o mais longe quanto humanamente possível de Metrópolis, ou no caso do Clark, não tão humanamente possível, foi que ela era a solução. Ela era a única coisa que impedia Davis de sair do seu porão para o mundo real e matar todos que ficassem em seu caminho, até finalmente matar Clark.
As mãos dela tremiam quando ela pegou na maçaneta e ela amaldiçoou todos em que pôde pensar enquanto contou três batimentos cardíacos, e se decidiu. Ao invés de sair correndo, ela se trancou no porão com a besta que uma vez foi seu amigo. Amaldiçoou Faora e Zod por criar Davis em primeiro lugar, por mandá-lo à terra. Amaldiçoou Jor-El por mandar Clark. Amaldiçoou Johnatan e Martha Kent por achá-lo e trazê-lo para casa. Amaldiçoou Lionel Luthor por promover seu pai, o que causou a mudança de Metrópolis para Smallville. Amaldiçoou o professor de sua classe, cujo nome escapou dela no momento, por escolher Clark Kent para levá-la para conhecer o local. Amaldiçoou a si própria por ir tão desesperadamente atrás da verdade por trás de Clark e, eventualmente, descobrir o segredo dele. Enquanto olhava para os olhos frios e calculistas de Davis Bloome, sabendo que havia um monstro espreitando muito perto da superfície para conforto, ela finalmente o amaldiçoou por tudo o que ele fez a ela e tudo o que ela sabia que ele eventualmente faria.
O telefone celular dela vibrou em sua cintura, trazendo-a de volta ao presente e a sensação a fez pular, se engasgando em um soluço. Ela esfregou os olhos e olhou para o telefone; era Davis. Ela apertou ignorar antes de correr de volta para dentro do Talon e para o porão. Se tivesse sorte levaria apenas uma hora mais ou menos para acalmá-lo e então poderia passar o resto da noite esfregando toda superfície disponível com alvejante. Até a hora de a equipe da manhã chegar não haveria nenhuma evidência de que um assassinato brutal havia acontecido lá e Chloe poderia talvez ter algumas horas para dormir antes de ter que ir à Fundação Isis.
Quando Chloe ia abrir a porta do porão ela teve a mesma sensação de sempre. Sua mente dizia para correr enquanto seu corpo tremia com medo não esgotado. Ela ignorou tudo isso, colocou no rosto o maior sorriso que podia compor depois do que tinha acabado de fazer e virou a maçaneta, entrando na toca do leão.
Malabarismo era uma coisa na qual Chloe era boa. Fazer malabarismo com os amigos e a reportagem, com a escola e a reportagem, com a vida e a reportagem e com a reportagem e ajudar seu melhor amigo alienígena a caçar e destruir prisioneiros alienígenas fugitivos de outra dimensão, tudo isso enquanto ajudava Oliver a derrubar os laboratórios 33.1. Em todo esse tempo ela nunca tinha ficado tão cansada como estava agora. Não importava quantas coisas estivessem acontecendo em sua vida, ela sempre arranjava tempo para dormir, mesmo que não fosse por oito horas completas. Mas não mais. Entre abrigar um alienígena assassino em massa e fingir que não estava abrigando um alienígena assassino em massa em seu porão, jogar fora um corpo, seus clientes na Fundação e ajudar Oliver, dormir tinha sido a última coisa em sua cabeça e aparentemente a primeira coisa na dos outros.
“Eu estou aqui há vinte minutos e você bocejou nove vezes.” Oliver falou, fechando a porta do porta-arquivo e suspirando mais uma vez enquanto o fez. Ele tinha implorado com a Chloe quando tomou conta da Fundação, para deixá-lo comprar um porta-arquivo novinho e não rosa, mas ela simplesmente sorriu e o lembrou que eles combinavam com o sofá rosa.
“Não vou nem me incomodar em comentar sobre o fato de que você está contando meus bocejos.” Chloe falou, ao bocejar novamente.
“Bocejos são contagiosos, sabe?” Oliver disse, bocejando. “Então porque você bocejou dez vezes agora, eu também, e eu não gosto de bocejar.” Ele pontuou. Chloe se levantou da mesa e foi até a cafeteira, servindo uma xícara grande e começando um novo pote. “E essa é a terceira xícara de café no mesmo tempo.”
“Oliver, não tem nada que eu possa procurar pra você e enviar pro seu escritório?” Chloe tomou um gole do café. “Você tem que fazer isso pessoalmente?”
Oliver simplesmente sorriu para ela e foi até o já mencionado sofá. “Você está ocupada. Não é nada urgente, só algumas coisas em que quero dar uma olhada.”
Chloe o encarou por um minuto e então semicerrou os olhos. “Deus, como você vence no poker está além de mim. Seu blefe é tão óbvio.” Ela tomou mais um gole do café. “O que você está fazendo aqui?”
“Clark estava preocupado com você.” Oliver admitiu. “Ele disse que você vivia cansada ultimamente, estava começando a esquecer coisas, trocar coisas.”
“Se isso é por causa do computador, o Clark pegou de volta.” Chloe protestou.
“Não é por causa do computador.” Oliver sacudiu a cabeça. “É um pouco por causa do computador. A Chloe que eu conheço nunca colocaria informações tão sensíveis em um laptop e seria estúpida o suficiente para perdê-lo de vista por um segundo.” Os ombros de Chloe caíram e ela esfregou a testa. “Bart disse que você o ajudou a ultrapassar um sistema em Belgrado às duas da manhã.”
“E?” Chloe franziu a testa. “Não é o meu trabalho?”
“É, mas aí o Victor disse que estava com você online analisando pedidos de compras às quatro da manhã e a Dinah disse que você a ajudou com reconhecimento umas cinco e meia.”
“Qual é o ponto, Oliver?” Ela praticamente gritou com ele.
“Meu ponto, mal-humorada,” ele ergueu as sobrancelhas para ela, “é o seguinte: quando foi a última vez que você dormiu?”
Chloe abriu a boca e então fechou rapidamente, lembrando da última vez que tinha dormido. Tinha começado bem, exceto pela estranha sessão de amassos com Davis em um sonho que rapidamente se transformou no pior pesadelo quando ela viu o corpo de Clark desmembrado pendurado na parede do porão. Ela não sentiu vontade de repetir a performance, mesmo que fosse só em um sonho. Isso também a fez perceber que ela não podia baixar a guarda nem por um segundo ou tudo que ela fez teria sido por nada e Davis mataria Clark e depois o resto do mundo. Então sono tinha virado inimigo e café o melhor amigo. “Eu durmo.” Chloe mentiu.
“Uau.” Oliver riu dela. “E você achou que o meu blefe era ruim.” O sorriso dele sumiu e ele bateu de leve no assento ao seu lado. Chloe caminhou até lá relutante e se sentou ao lado dele. “Isso é sobre o Davis?” Ele perguntou calmamente.
O batimento cardíaco de Chloe se acelerou, mas então ela percebeu que não tinha como Oliver saber sobre Davis. Ele enterrou pessoalmente o corpo e não tinha motivo nenhum para acreditar que Davis estava em qualquer lugar além de onde ele o deixou. “Não.” Chloe disse.
“Mentirosa.” Oliver sussurrou, colocando um braço em volta do ombro dela. “Você fez o que tinha que fazer.” Oliver falou. “O que Clark não pôde fazer. Você o salvou, salvou a todos nós.”
“Eu sei disso.” Chloe disse, sua voz baixa e tremendo enquanto as lágrimas beiravam a borda de suas pálpebras. “Mas toda vez que fecho os olhos...” Por mais vergonhoso que fosse, ela não pôde evitar quando os soluços tomaram conta.
“Shh.” Oliver esfregou as costas dela tentando acalmá-la. “Você não pode dormir porque você vê o rosto dele. Porque todo sonho é pesadelo.”
“Sim.” Chloe disse. A primeira coisa completamente honesta que ela disse a ele nesse dia.
“Você está assustada.” Oliver disse. “Você está com medo dele, com medo do que ele fez, você está com medo de si mesma.”
“Sim.” Chloe chorou. “Eu estou com medo o tempo todo.” Chloe finalmente admitiu em voz alta. “Eu estou com medo do que vou ver quando fechar os olhos e eu estou com medo de que quando eu abrir os olhos ele vais estar lá comigo. Eu estou simplesmente com medo.” Oliver a puxou para mais perto, seu coração doendo por Chloe. “Mas acima de tudo eu estou tão cansada.” Ela disse para ele. “Eu estou cansada de sentir medo, estou cansada de sentir culpa, eu estou simplesmente tão cansada, Oliver.”
“Tá tudo bem.” Ele a consolou, seus lábios plantando um beijo tranqüilizador em sua testa. “Tá tudo bem.” Ele disse de novo. “Eu estou aqui.” Ele prometeu para ela. “Não vou a lugar nenhum então por que você não fecha os olhos.” A respiração de Chloe parou em sua garganta. “Só por um tempo, só por um minuto. Eu vou estar bem aqui, vou estar aqui o tempo todo, tá bem?”
Chloe não tinha forças para protestar mais então balançou a cabeça a baixou, repousando-a no ombro de Oliver. Ele a fez dormir murmurando algo que ela não conseguia entender bem e fazendo círculos com a mão em suas costas.
Oliver olhou para a forma de Chloe dormindo, seu rosto relaxado pela primeira vez em semanas. As sobrancelhas dela não mais enrugadas, as linhas em volta dos olhos e da boca dela agora lisas e não enrugadas com preocupação. A boca dela estava levemente aberta respirando profundamente enquanto ela dormia no colo dele e Oliver sentiu a tensão se esvair do seu corpo.
Clark foi quem disse a ele o que Chloe tinha feito, o que ela teve que fazer porque Clark não podia. Clark foi quem primeiro mencionou que não achava que Chloe estivesse dormindo, mas por algum motivo foi Oliver quem tomou a decisão de ir ver se ela estava bem. Era Oliver o único que podia entender como era tirar uma vida pelo bem de Clark Kent. Era Oliver que estava talvez um pouco mais preocupado com o bem estar de Chloe sendo o chefe ou mesmo o amigo que deveria ser.
Ele viu quando a respiração dela se acelerou, a testa franziu e os olhos se fecharam mais fortemente. Ele assistiu quando um pesadelo tomou conta do estado pacífico dela e sentiu a raiva ferver em seu estômago. Ele sussurrou palavras de conforto no ouvido dela, gentilmente esfregou as costas dela e ela relaxou, seu sono se tornando pacífico mais uma vez, mas ainda assim Oliver se enfureceu.
Ele se enfureceu com Davis Bloome, por pedir a ela para fazer o que fez. Enfureceu-se com Clark Kent por não ter a força que Chloe teve. Mas principalmente, se enfureceu consigo mesmo por não saber sobre o perigo, por não ter estado lá para salvá-la, para ajudá-la quando ela mais precisava. Ele jurou que isso não aconteceria novamente, ele não deixaria que ela ficasse nessa situação de novo enquanto ele estivesse por perto para impedir. Chloe estava longe de ser indefesa, um fato que ela era rápida em pontuar para qualquer um que sugerisse o contrário, mas mesmo assim, ela não era a mulher de aço que fingia ser e ele estava determinado a fazer com que ela não tivesse mais que fingir. Enquanto ele formulava um plano para manter Chloe Sullivan o mais segura quanto pudesse, um que beirasse levemente a criação de um modelo em escala de Metrópolis, popular a coisa com atores e tacar Chloe no meio à lá Show de Truman, Oliver lentamente caiu no sono.
Chloe podia se sentir saindo de um sono bem profundo e resistiu a cada passo do caminho. Ela estava mais confortável do que tinha estado em semanas agora e isso tinha menos haver com a coisa levemente atolada em que esteve dormindo, achou que tinha mais haver com o braço forte e protetor que estava em volta de sua barriga. Com o movimento, o braço segurou mais forte em volta dela e uma voz familiar sussurrou palavras de desencorajamento por trás do pescoço dela. “Oliver?” Chloe pensou, confusa, tentando visualizar uma situação em que ela e Oliver terminassem dormindo juntos em algum lugar.
Ela abriu os olhos levemente e viu que a sala estava envolta em escuridão. Luzes aleatórias do lado de fora da janela a mostraram que era noite e havia carros passando por perto e uma fraca luz fluorescente rosa flutuando em frente poderia ser nada mais do que a placa da Fundação Ísis. Lentamente tudo veio à tona. Ela estava trabalhando com o Oliver quando eles começaram a discutir sobre os hábitos de dormir dela e de alguma forma isso terminou com os dois dormindo juntos no sofá rosa estúpido. Ela odiava o sofá rosa e o porta-arquivo rosa que combinava, mas eles incomodavam o Oliver então ela fingiu amá-los.
A dor da cãibra no pescoço dela estava lentamente ultrapassando a vontade de implicar com o Oliver então ela decidiu que na próxima vez que ele se oferecesse para redecorar ela aceitaria a oferta. Oliver murmurou novamente e Chloe voltou à completa consciência. Ela tinha que se lembrar de fazer pouco dele sobre não só o chamego, mas sua relutância em acordar da sesta. Uma luz apareceu na mesa na frente dela e ela franziu a testa até perceber que era o seu telefone e que ele estava chamando. Ela esticou uma mão e o pegou, vendo Talon na tela; seu corpo congelou.
Talon foi o nome que ela pôs no número de Davis para que ninguém o visse no telefone dela e Chloe entrou em pânico. Ela olhou para o relógio na tela do telefone e percebeu que esteve dormindo por quase sete horas. A ligação desconectou e ela viu quarenta e duas chamadas, todas do Davis. Ela se sentou abruptamente empurrando Oliver e fazendo com que ele também acordasse. “O que tá acontecendo?” Ele perguntou grogue.
“São quase oito da noite.” Chloe disse, procurando freneticamente pelos seus sapatos. Eles devem ter caído em algum momento durante o tempo em que esteve dormindo. “Eu não acredito que dormi tanto.”
“Você estava cansada.” Oliver rebateu. “Aparentemente eu também.” Ele passou uma mão pelo cabelo.
“Mas eu tinha coisas pra fazer.” Chloe o encarou acusadora, como a culpa fosse dele. “Eu tenho coisas que preciso... tenho que ir.” Ela sacudiu a cabeça, pegando a bolsa e andou em direção à porta.
“Ir?” Oliver franziu a testa, se levantando. “Chloe, espera um minuto, se acalma.”
“Tranca quando sair?” Ela pediu, e então partiu. Oliver ficou lá sozinho, confuso, e tentando ao máximo não pensar sobre o fato que ele esta foi a melhor “dormida” que ele teve em meses.
“Eu sei, me desculpe.” Chloe abriu a porta do porão com força e desceu correndo os degraus.
“Onde você esteve?” Davis perguntou, chateado. Seu rosto estava pálido, seu corpo todo tremia e ele pareceu reagir visivelmente à presença dela, acalmando-se rapidamente.
“Eu fiquei presa na Fundação e não percebi que horas eram, sinto muito mesmo.” Chloe franziu a testa.
“Eu te liguei tantas vezes.” Ele disse e ela fechou os olhos, envergonhada.
“Eu sei, me desculpa.” Chloe disse. “Mas eu estou aqui agora. Estou bem aqui.” Ela assegurou, sentando na cama improvisada que eles fizeram para ele.
“Eu sei.” Davis sentou ao lado dela e repousou a cabeça em seu ombro, franzindo a testa. Ela tinha um cheiro estranho. Chloe tinha seu próprio cheiro, era uma mistura de seu xampu de romã e aquele leve cheiro de ozônio que sai dos computadores, que Davis amava, mas hoje algo estava diferente. Ele podia sentir romã e podia sentir o cheiro dela, mas sobre isso havia algo diferente. Havia uma pitada de sabonete misturado a um cheiro amadeirado, quase como serragem, presos às roupas e ao cabelo dela, e Davis não gostou desse cheiro. Antes que ele pudesse perguntar a ela o que era, ela começou a passar a mão no cabelo dele, a única coisa que parecia acalmá-lo o suficiente para dormir relaxado, esquecendo o cheiro e simplesmente pensando na Chloe.
Enquanto a respiração de Davis se regulou quando ele caiu no sono, Chloe aproveitou para se acalmar. Ela desperdiçou um dia, desperdiçou um dia inteiro dormindo quando podia ter ficado procurando por uma solução. Ela tinha três opções e nenhuma das três era muito promissora.
A opção número um era uma cura, algo que pudesse separar Davis da besta. Idealmente, se acharia que essa era a melhor, mas Chloe achava que não. Se ela o curasse, o transformando em um cara normal, será que ela estaria fazendo um favor a ele? Ele não mais teria vontade de matar, mas teria a memória de todos aqueles que ele matou, todas aquelas pessoas, e eram tantas. Que tipo de vida era essa?
A opção número dois era a prisão, não a prisão real de Metrópoles, mas a Zona Fantasma. Se ela pudesse de alguma forma mandá-lo para lá ela poderia mantê-lo lá, onde Clark e a humanidade estariam a salvo. Mas ela não tinha certeza se estava pronta para condená-lo a uma eternidade naquele inferno.
A opção número três era assassinato. Se por um milagre ela encontrasse um modo de matá-lo e mantê-lo morto ao invés de voltar mais forte, mas ela também não sabia se podia fazer isso. Ela sabia que se chegasse a fazer isso, como Oliver e como ela já havia feito, ela poderia matá-lo se isso significasse salvar Clark, salvar o mundo. Isso não significa que ela queria e como essa não era a melhor opção no momento, ficou como último caso.
Os dedos dela continuaram o seu ritmo, deslizando pelos cabelos de Davis enquanto pensava sobre o que estava tentando não pensar. Acordar nos braços de Oliver foi algo que Chloe, definitivamente, não esperava. Ela se sentiu segura pela primeira vez em muito tempo e pelos primeiros gloriosos segundos depois de acordar ela conseguiu esquecer-se de tudo exceto a sensação dos braços do Oliver em volta da cintura dela e o novo e familiar frio que isso causava em sua barriga. Durante aqueles poucos minutos não havia nenhum Davis, nenhum Doomsday, nenhum assassinato, nenhum segredo. Só havia ela e Oliver. Então seu telefone tocou, a realidade voltou e isso tudo acabou.
Ela olhou para Davis para ter certeza de que ele estava em um sono profundo o suficiente para que ela saísse e fosse lá para cima por algumas horas, fazer algo para jantar, tomar um banho e passar um tempo pesquisando e possivelmente ajudando Victor e AC com um armazém em Miami, após mostrá-los o quanto ela não apreciou eles terem dedurado ela para o Oliver. Ela levantou da cama e subiu as escadas o mais quieta e rapidamente possível.
Oliver abriu os olhos lentamente, ajustando-se à luz, sentindo sua cabeça latejar e doer. “Oliver, vamos lá cara, acorda.” Jimmy disse, na frente dele. Ele olhou em volta confuso, parecia estar no porão do Talon. Ele não conseguia lembrar como chegou lá primeiramente, até sua cabeça latejar e tudo vir à tona.
Clark tinha vindo ao seu escritório, interrompendo um dia perfeito para lhe dizer que a cova que Oliver cavou e enterrou Davis Bloome estava vazia e Clark temia que ele fosse atrás de Chloe. Enquanto Oliver já estava mentalmente planejando o resgate de Chloe em sua cabeça, Clark estava pedindo a ele que fosse até ela e a mantivesse segura até ele conseguir achar uma maneira de colocar Davis na Zona Fantasma.
Oliver lembrou-se da briga que eles tiveram depois disso. Lembrou de si mesmo gritando com Clark devido a sua covardia. Ele pontuou que o único modo de manter Chloe e todo mundo a salvo era matar Davis. Quando Clark disse que sempre havia outra maneira, outras opções, Oliver riu.
“Outras opções?” Oliver perguntou. “Você quer dizer, fazer com que seus amigos o matem por você?”
“Isso não é justo.” Clark falou mais alto com ele.
“Não é justo?” Oliver gritou. “O que não é justo são todas as pessoas por aí com sangue nas mãos para você poder manter as suas limpas e puras. Isso não é justo.”
Ele tinha sido grosso, mas não errado. Oliver matou Lex quando Clark não pôde, Chloe matou Sebastian Kane e, mesmo sem sucesso, matou Davis Bloome quando Clark não pôde. Agora ela estava em perigo e o melhor que Clark podia pensar era colocá-lo na prisão.
Enquanto ele lentamente voltou à consciência, tentou controlar a situação. Tentou evitar que Jimmy cometesse suicídio com o assassino psicótico enquanto pensava nas informações que tinha. Chloe tinha mantido Davis em seu porão por meses, provavelmente desde que ele cavou a saída da cova que Oliver fez. Ela tinha escondido ele lá embaixo e mantido tudo em segredo.
Será que ela estava protegendo Davis? Essa não podia ser a razão, Oliver se recusava a acreditar que ela estava fazendo isso pelo Davis. Não, Chloe não era esse tipo de pessoa. Mesmo se uma vez ela tenha sentido algo pelo cara, ela não seria capaz de ignorar os assassinatos, o mal dentro dele. Se ele conhecia Chloe, e ele era uma das poucas pessoas que podia afirmar isso com certeza, ela estava fazendo isso pelo Clark. Ela estava ajudando Davis, mantendo ele sob controle para manter Clark, e o resto do mundo, seguro. Ela era tão idiota.
Chloe ligou para Davis e Oliver tentou avisá-la, tentou mantê-la longe e segura, mas ele já havia aprendido que a segurança de Chloe era quase impossível se dependesse dela. Ele simplesmente fechou os olhos e esperou que conseguisse formular um plano antes que ela chegasse lá.
Chloe desligou o telefone, suas mãos tremendo, analisando pela milésima vez se ela estava fazendo a coisa certa, se esse era realmente o caminho a se seguir. Ela sabia pelo Dr. Hamilton que não havia cura, nenhum modo de consertá-lo. Ela ainda não tinha coragem de mandá-lo para a Zona Fantasma, nem o poder para isso, e ela não podia matá-lo. Porém Tess havia denunciado ele e a polícia o estava procurando, era só uma questão de tempo para que ele fosse encontrado, especialmente se ele continuasse passeando por aí como fez naquela tarde. Fugir era a única opção que restava, eles definitivamente não podiam continuar em Smallville.
Ela tinha saído por duas horas e ele já tinha feito reféns no seu porão. Talvez ela devesse entregar tudo. Talvez ela devesse ter contado ao Clark que Davis estava em seu porão e não mandado ele em uma busca fantasma para o Alaska. Não tinha como voltar atrás agora, ela só tinha que chegar ao Talon antes que Davis perdesse o controle. A última coisa que ela queria era ter que se livrar de mais dois corpos antes de sair de casa para sempre.
Pisou mais fundo no acelerador, tentando pensar na melhor forma de faze isso. Deveria se despedir ou simplesmente partir sem deixar vestígios? O que seria melhor para as pessoas amadas que ficariam para trás? Deveria explicar o que estava fazendo, porque estava fazendo isso? Será que eles saberiam? Será que eles a conheceriam bem o suficiente ou simplesmente pensariam como Jimmy, que ela estava apaixonada por Davis e os assassinatos, o monstro, não a incomodavam? Esse pensamento foi como uma facada no coração. Claro que eles já a conhecem bem, saberiam que ela não era assim, não saberiam?
Ela estacionou em local proibido em frente ao Talon, correu para dentro e praticamente deslizou pelos degraus para o porão. Levou o tempo de três batimentos do seu coração para que ela entendesse completamente a cena em sua frente. Davis com as duas mãos, uma em cada lado, na cabeça de Jimmy e Oliver acorrentado a um cano atrás dele, gritando para que ele parasse. “Chloe nunca perdoaria você.” Oliver disse, e para o total alívio de Chloe, Davis largou Jimmy, e ela conseguiu respirar.
“Você está certo.” Davis disse. “Chloe nunca me perdoaria por matar o marido dela, você significa muito pra ela.” Ele se virou para Oliver e Chloe soube o que estava acontecendo provavelmente antes de Oliver. “Vai ter que ser você.”
Mais três batimentos cardíacos, foi todo o tempo necessário para que ela decidisse como sair desse desastre, como consertar as coisas e nesses três batimentos o coração dela se partiu com a idéia. Ela correu para eles, largando a bolsa e a jaqueta para segurar os braços de Davis quando os dedos dele se apertaram ao redor do pescoço de Oliver.
Davis soltou os braços, Oliver inspirou o mais que necessário ar e Chloe o encarou por três batimentos cardíacos, esperando dizer tanto em tão pouco tempo. Ela tirou os olhos dela dos confusos dele e olhou para Davis. “Eu estou aqui.” Chloe disse, movendo ele habilmente para longe de Oliver, para longe de Jimmy. “Eu estou aqui agora, se acalme.”
“Chloe.” Davis caiu sobre ela, abraçando-a fortemente e ela teve que usar toda a sua força reserva para não gritar, não empurrá-lo para longe em desgosto, mas abraçá-lo.
“Chloe?” A voz de Oliver estava magoada e confusa e um com tom de algo que Chloe veio a conhecer muito bem nas últimas semanas, traição. “Chloe, o que tá acontecendo aqui?”
“Eu tenho tudo sob controle.” Ela disse a ele. “Podemos ir agora, deixá-los aqui e sair da cidade, esqueça eles.”
“Não podemos.” Davis sacudiu a cabeça. “Eles sabem que eu estou aqui. Eles sabem que estou com você.” Ele beijou a testa dela. “Ninguém vai acreditar no Jimmy, ele tem um histórico de crises psicóticas e alucinações sobre Davis Bloome, o assino em série. Mas não podemos confiar no Oliver.”
“Podemos.” Chloe protestou.
“Ele vai contar.” Davis rosnou.
“Ele não vai.” Chloe disse ao mesmo tempo em que Oliver decidiu falar.
“Pode ter certeza que eu vou.” Oliver gritou.
Davis se separou de Chloe e suas mãos estavam em volta do pescoço de Oliver em segundos. “Só essa coisa, só essa única coisa e nós podemos ser livres.”
“Ele não é uma coisa, Davis, ele é uma pessoa, ele é meu amigo.” Chloe implorou. “Você não pode simplesmente... ele é meu amigo.”
Algo impediu Davis de quebrar o pescoço de Oliver e o que mais amedrontou Chloe foi que não foi ela. Não foi a presença dela nem nada que ela fez, foi o próprio Davis, ele se controlou. O que aconteceu depois foi a coisa mais surreal da semana, o que quer dizer muito para uma garota abrigando um alienígena assassino em série fugitivo. Davis se inclinou para perto de Oliver, bem ao lado de sua bochecha o cheirou.
Davis precisou de menos de três batimentos cardíacos para se lembrar do cheiro, sabonete e ferragem. O cheiro com que Chloe estava impregnada na outra noite, o cheiro que o incomodou tanto. “Era você.” Davis rosnou.
“Era eu o quê?” Oliver sussurrou, um verdadeiro medo em sua voz.
“Você estava com ele.” Davis virou para Chloe lentamente. “Você disse que estava trabalhando, mas estava com ele.”
“Não Davis.” Chloe deu um passo para frente. “Por favor.”
“O cheiro dele.” Davis cuspiu. “Você estava coberta disso. Ele estava sobre você.”
“Eu não estava.” Oliver sacudiu a cabeça. “Nós só dormimos. Nós estávamos só dormindo.”
Chloe fechou os olhos e Oliver percebeu tarde demais que era a coisa errada a dizer. “Você não toca nela.” Davis rosnou para ele e virou para Chloe. “Eu estava errado antes, não estava?” Ele perguntou. “O Jimmy não é o mais importante pra você, é ele, não é?”
“Davis, você precisa se acalmar.” Chloe implorou para ele.
“Você achou que poderia tirar ela de mim?” Davis perguntou ao Oliver. “Você achou que era bom o suficiente pra ela?” Ela segurou o pescoço de Oliver e apertou com força. “Você não pode. Ela é minha, você tá entendendo? Ela é minha.”
“Ele sabe.” Chloe segurou os braços de Davis e os olhos dele começaram a perder a cor vermelha.
“Ela é minha.” Davis disse.
“Eu sou.” Chloe tentou assegurá-lo. “Eu sou sua.” Ela engoliu o desgosto e o beijou. Ela forçou seus lábios contra os dele e se recusou a soltar até os braços dele ficarem em volta da cintura dela e não ao redor do pescoço de Oliver. “Eu sou sua.” Ela disse, se afastando. “Eu preciso que você vá lá em cima, preciso que você guarde algumas coisas em uma mala ok? Eu vou cuidar deles e então nós poderemos partir.”
“Ok.” Davis sorriu para ela e a beijou novamente.
“Ok.” Chloe balançou a cabeça. “Guarde só as minhas roupas, não preciso de mais nada.”
Davis balançou a cabeça e subiu os degraus. “Chloe, me solta daqui.” Oliver disse. “Me desamarra e nós podemos te tirar daqui, te deixar segura.”
“Não posso.” Chloe foi até ele e apertou as amarras. “Eu vou ligar pra alguém quando estivermos fora da cidade e dizer que vocês estão presos aqui. Não vai passar de uma hora, eu prometo.”
“Chloe, você não está seriamente pensando em partir com esse cara.” Oliver implorou.
“Eu tenho que ir.” Ela disse. “Eu sei o que estou fazendo.”
“Você está tão longe de saber o que tá fazendo.” Oliver sacudiu a cabeça para ela.
“Eu posso controlá-lo.” Chloe disse. “Eu posso manter Davis, evitar que ele se transforme em Doomsday. Enquanto ele for Davis ele não está matando ninguém, não está matando o Clark e não está matando você.”
“Você não pode tomar essa responsabilidade. Isso não é problema seu, ele não é problema seu.”
“Ele pode não ser problema meu,” Chloe sussurrou, “mas até o Clark poder fazer o que precisa ser feito, eu sou a solução.”
“Você não é, Chloe. Não é mesmo.” Oliver implorou, e eles ouviram Davis bater a porta do apartamento de Chloe.
Chloe sorriu tristemente para ele, segurou seu rosto e o beijou docemente. As lágrimas que corriam pelo seu rosto alcançaram os seus lábios, tornando o beijo salgado e agridoce. Ela se afastou ofegante. O que deveria ser uma simples despedida se transformou em muito mais e Chloe não estava preparada para isso. Pelo olhar de Oliver, ele também não. “Eu tenho que ir.”
“Chloe!” Oliver puxou as amarras. “Não faça isso.”
“Eu tenho que ir.” Ela esfregou os olhos.
“Eu vou te encontrar.” Oliver puxou as amarras mais fortemente. “Eu vou fazer o que eu puder pra te encontrar, onde quer que você esteja nesse planeta, ou fora desse planeta. Eu vou te encontrar e te trazer de volta.”
“Não, você não vai.” Chloe sacudiu a cabeça e repousou uma mão no rosto dele. “Ele estava certo, sabe? Eu não sei quando isso aconteceu, mas você é a pessoa mais importante pra mim.”
“Chloe.” Lágrimas se acumularam nos olhos dele e Chloe se afastou.
Três batimentos cardíacos foi todo o tempo que Chloe levou para mudar sua expressão de tristeza para excitação quando Davis chutou a porta aberta. “Pronta?” Ele segurava uma sacola para ela.
“Sim.” Chloe balançou a cabeça, indo para os degraus.
Oliver nunca entendeu o que as pessoas queriam dizer com ‘as coisas se moviam em câmera lenta’, não até aquele segundo, aquele agonizante segundo. Ele podia ver cada movimento, do balançar dos cabelos dela quando ela passou pela saída de ar ao leve toque da mão dela, quando ela estendeu o braço automaticamente para segurar um corrimão que não estava lá. Foi como se tivesse levado uma eternidade para ela subir as escadas, e ele usou esse tempo para memorizá-la. Ele não também tinha certeza de quando isso aconteceu, mas ela também se tornou a pessoa mais importante para ele e não havia nada que ele pudesse fazer para salvá-la. Ele queria se enfurecer, ele queria chorar, queria fechar os olhos para não ter que a ver ir embora, mas não conseguia fazer nenhuma dessas coisas.
Eles chegaram ao degrau do topo, abriram a porta e a cabeça dela se virou para ele. Seus olhos se encontraram por um, dois, três batimentos cardíacos, e então ela partiu.
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